22 DE NOVEMBRO EM MADRID: CADA VIDA IMPORTA

O DRAMA MATERNO-INFANTIL, SEM SOLUÇÃO

Dr. José María Simón Castellví

Anterior presidente da FIAMC

http://www.cadavidaimporta.es/

No próximo sábado, dia 22 de novembro, milhares de pessoas manifestar-se-ão em Madrid a favor da vida humana que nasce. Trata-se de uma concentração justificada, uma vez que o partido político no poder, que governa com maioria absoluta, incumpriu o seu programa, e depois de esquivar durante meses este tema decidiu não melhorará a legislação atual sobre o aborto provocado.

Em Espanha, a eliminação de um ser inocente no ventre materno e a perda da inocência da sua mãe não conhecem limites. A lei que o permite —aprovada de maneira forçada há alguns anos por um Tribunal Constitucional empenhado em fazer uma leitura equivocada da Constituição (“todos têm direito à vida”)—, os regulamentos que a desenvolvem e as tíbias respostas por parte de juízes e fiscais converteram o país num paraíso abortista, e Barcelona num destino preferente do tristemente célebre “turismo do aborto”.1 Além disso, as ajudas públicas e privadas às gestantes com problemas são praticamente inexistentes. Apenas algumas iniciativas em prol da vida revelam a misericórdia das boas gentes que ainda existem em Espanha.

Vivi e combati o drama do aborto desde que iniciei a minha carreira com médico, nos anos 80. A situação foi sempre piorando. Nunca contámos com o apoio da cultura, da intelectualidade, ou com uma opinião publicada, nem com umas administrações públicas ou com uma justiça capaz de ver o drama materno-infantil do aborto e de procurar mitigá-lo na medida do possível.

Não quero abordar aqui as causas que nos levaram a este desastre humanitário, num país ocidental com um nível de vida relativamente confortável. As causas, as desculpas e os sofismas foram variando ao longo dos anos, sempre em consonância com certos lobbies transnacionais, aos quais agora interessa fazer desaparecer o Chile dos países de defendem o não-nascido. Este é um país com uma medicina muito avançada, e uma prova viva de que com uma legislação restritiva se evitam a morte de milhares de mulheres derivada do aborto clandestino.

Éramos muitos os que ansiávamos do Partido Popular algum avanço na cultura da vida. Pedíamos apenas um gesto, apesar de acreditar pessoalmente que o “aborto zero” seria possível. Ninguém podia imaginar anos atrás, com o desenvolvimento da Internet, que seria possível lutar eficazmente contra delitos tremendos como a pornografia infantil, ou o tráfico de pessoas. Graças a Deus, estes flagelos tem vindo a combater-se eficazmente, e os seus responsáveis têm sido levados perante a justiça humana. Quando as autoridades se põem a trabalhar, os resultados são sempre positivos.

Não há mal que por bem não venha. Se por um lado constitui um grande mistério que o Altíssimo tolere aparentemente os crimes abomináveis da humanidade, também é certo que um dia o aborto provocado desaparecerá da face da Terra, e que Deus é capaz de conseguir sacar sempre o bem dos crimes da humanidade. Talvez a traição do Partido Popular sirva para despertar as consciências de muitos espanhóis, e de uma vez por todas os milhões de pessoas que defendemos a vida sejamos capazes de nos organizarmos eficazmente para proteger melhor as mães, as crianças e as famílias.

Parece ser que o Governo espanhol e, infelizmente, os governos autonómicos, trabalham com base na premissa de que o chamado “voto católico” não existe. Talvez tenham razão. Mas as coisas podem mudar. Sei que a criação de um novo partido democrata-cristão tem os seus riscos, e que o remédio pode ser pior que a doença, mas a inteligência foi-nos concedida, e por isso devemos utilizá-la. As legítimas opções temporárias não nos deveriam desviar do nosso objetivo: uma saúde materno-infantil completa, nenhum aborto procurado, e uma assistência obstétrica de qualidade para todas e cada uma das mulheres, sejam espanholas ou imigrantes.

Menciono aqui a ideia de um possível partido ou agrupamento de eleitores de cariz cristão, porque, apesar de que outras maneiras de pensar também podem chegar à mesma conclusão sobre a intangibilidade da vida desde a sua conceção, o normal é que sejamos os cristãos quem a defendamos.

Não estarei em Madrid no dia 22 de Novembro, porque, se Deus quiser, assistirei ao congresso sobre o autismo organizado pela Santa Sé.2 Mas o meu coração e as minhas orações, juntamente com as de tantos médicos e pessoas de bem, estarão concentrados em Madrid, por um dia convertida em capital da vida.

O Papa Francisco falou-nos da misericórdia de Deus na jornada do Evangelho da Vida.3. Não mencionou naquele dia uma única vez as palavras aborto ou eutanásia. Queria centrar-se no Deus que cura. No entanto, quando recebeu um congresso de ginecologistas católicos4 animou-nos a não nos deixarmos vencer pela cultura do descarte, e a proteger sempre os mais fracos e indefesos.

Em Madrid dar-se-á um testemunho da vida. E os pais que participem com os seus filhos pela mão, saberão transmitir-lhes a mensagem de que cada vida importa!

1. http://www.forumlibertas.com/frontend/forumlibertas/busqueda.php

2. http://www.fiamc.org/agenda/conferenza-internazionale-o seu-l%C2%B4autismo/

3. http://www.fiamc.org/uncategorized/4890/

4. http://www.fiamc.org/texts/holyfather/holy-father-to-fiamc-mater-care-international/