Igreja/Saúde: «A mão que dá o medicamento precisa de amar o doente» – Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses
6 Maio, 2024 17:57
Direção da AMCP assume «compromisso» com medicina, com a Igreja em Portugal e no mundo, e no serviço à comunidade, no mandato até 2026
Lisboa, 06 mai 2024 (Ecclesia) – A presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) defendeu, em entrevista à Agência ECCLESIA, que se faz melhor medicina quando se ama o doente.
“A mão que dá o medicamento precisa de amar o doente”, afirmou Margarida Neto, que refere que junto do exame de entrada em medicina, os candidatos deveriam ser sujeitos a uma entrevista, procurando “avaliar quem é a pessoa por trás ou ao lado da nota”, um processo já realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa.
“Isso é muito importante no desenvolvimento de uma capacidade relacional que é talvez a base da medicina, porque nós podemos ser técnicos tecnicamente brilhantes, [mas] se não conseguirmos relacionarmos bem com o doente, é menos sucesso o que temos, para nós e para eles, sobretudo para os doentes”, salientou.
A psiquiatra, que trabalha na Casa de Saúde do Telhal, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, foi eleita presidente da AMCP no dia 13 de abril, e faz parte de uma nova direção nacional, cujo programa para o mandato até 2026 tem uma palavra e propósito: compromisso.
“A palavra compromisso é boa, é forte, determina muito daquilo que queremos. Queremos estar mais presentes e mais presentes em três áreas, foram três áreas escolhidas. Em primeiríssimo lugar com a medicina, que é a nossa profissão e a nossa missão. Depois com a igreja, que também somos testemunhas de uma vida em igreja. E finalmente com a sociedade, onde trabalhamos, onde vivemos e que temos, penso eu, uma palavra e um testemunho a desempenhar”, destacou.
Para Margarida Neto, ser médico católico significa aliar a competência técnica à proximidade humana, “ter sempre o doente em primeiro lugar, defendê-lo sempre, defender a vida e acompanhá-la desde o nascimento até à morte”.
“O cristão traz uma luz espiritual, testemunhal, de esperança e de amor aos doentes. Eu insisto na humanidade. Um médico católico tem que ser, na medida do possível, exemplar nessa atitude e fazer da sua secretária um altar”, sublinhou.
A presidente da AMCP entende que os médicos não podem perder a sensibilidade “no meio do computador” e o “olhar perante o doente”: “O doente queixa-se que os médicos não olham para ele. Não podemos perder o toque. À custa de tantos exames complementares, tantas técnicas radiológicas e outras, o médico perdeu o olhar sobre o doente, o tocar que segura, que conforta, que dá esperança”.
Sobre a afirmação religiosa no meio hospitalar, Margarida Neto fala que muitos profissionais dão o testemunho das dificuldades de entendimento que enfrentam ao assumirem a convicção religiosa em centros de saúde e hospitais.
“As áreas mais difíceis de defender no meio da medicina são as áreas da vida. A questão do aborto, a questão da eutanásia, esta muito intensa, a questão na área da ginecologia, a questão das barrigas de aluguer”, adianta a responsável, que acrescenta que esta é uma dificuldade “que não afasta os médicos”.
“Esta dificuldade deve motivar os médicos a terem uma excelente formação nestas áreas éticas, para depois poder afirmar a sua fé sem gritar. É dar um testemunho muitas vezes mais claro, outras vezes mais discreto, mas estar lá, perto dos doentes e rezando por eles”, indica.
Margarida Neto afirma que “um desejo muito grande desta direção” é proporcionar encontros com profissionais de saúde católicos.
“A dificuldade de sermos católicos nos meios, em todos, quer na medicina, quer na enfermagem, quer até aos juristas, apela a que nos encontremos para fazermos companhia uns aos outros. Foi assim que Jesus Cristo fez. Foi em companhia que foi para o mundo e essa companhia nós queremos ter”, assinalou.
A presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses foi a convidada de hoje do Programa ECCLESIA, transmitido cerca das 15h, na RTP2.
HM/LJ